Contradições nossas de cada dia

 

oatawaiStock
A mulher que vai à igreja todos os domingos e dá comida aos pobres quinta à noite com bastante publicidade pode fazer da vida dos colegas de trabalho um inferno.
O homem que posta odes feministas na Internet porque é pai de menina é o mesmo que mente a respeito da vida sexual das amigas com o intuito de ostracizá-las.
Mas também pode ser que alguma moça que vá à igreja todos os domingos e dê comida aos pobres quinta à noite seja agradável de se conviver na empresa.
Pode ser que o homem que posta odes feministas na Internet até faça o que canta e é nessa esperança dos pode-ser que tentamos ser parecendo que somos. 
Porque só se pode falsificar algo se existir um referente verdadeiro, mesmo que ideal, é que nos contradizemos aos olhos daqueles que tentam montar nosso quebra-cabeça.
Porque somos latão imitando ouro, tentamos brilhar bastante. Pois o senso comum afirma que ouro brilha, então: dá-lhe brilhar, dá-lhe parecer até ser.
Mas não dá. O latão enferruja e daí não tem mais jeito. Já o ouro, até perde o brilho, mas com uma polidinha ali, volta a ser como quando saiu do ourives.
E, afinal de contas, o que importa nem são tanto as contradições do outro ou nossas. 
O que importa é nossa leitura dessas contradições, que valem só para nós, muitas vezes. Valem pra nos orientar a sermos os ourives de nós mesmos, tentando aprender de cada coisa o que trouxer mais valor (para nós).