Amizades interrompidas e relações familiares difusas são o pano de fundo de Em Brasília, setembro, cujas protagonistas amadurecem ao longo das duas primeiras décadas do século XXI.
Ao debruçarem-se sobre o passado na tentativa de compreender os fins mal explicados de seus relacionamentos, Laura e Roberta encontram obstáculos para se certificarem de suas memórias, apresentando versões complementares dos mesmos eventos enquanto se observam a distância e de maneira anônima na internet.
Dificuldade de comunicação em um mundo virtualmente conectado, fragilidade dos relacionamentos e busca por expressão pessoal a fim de superar traumas remetem a uma geração marcada por polarizações ideológicas advindas de preconceitos históricos.
Com estilo hipersinestésico e intimista, Livia Milanez leva o leitor a enxergar o mundo a partir das perspectivas das duas mulheres, cujas diferenças foram mais fortes que a amizade forjada na adolescência, afastando-as na vida adulta.
Uma das personagens isola-se na segurança e previsibilidade da rotina brasiliense, enquanto a outra prefere a “incerteza de todos os outros lugares” e desbrava a si mesma adentrando o interior do país até retornar à cidade de onde partira para viver em Brasília.
A secura do Planalto Central, à qual Laura adere e à qual Roberta é incapaz de sobreviver, é metáfora para a aridez emocional de indivíduos condicionados a não sentirem e não refletirem sobre si mesmos.
Em Brasília, setembro (200 páginas)
Livia Milanez
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